RED-S vs. Síndrome do Overtraining - Análise comparativa de duas condições críticas em atletas de endurance
dr.rodrigovicente • 18 de dezembro de 2025
A Deficiência Relativa de Energia no Esporte (RED-S) e a Síndrome do Overtraining (OTS) são condições distintas frequentemente confundidas em atletas de endurance. Embora ambas apresentem sintomas sobrepostos — como fadiga crônica, queda de desempenho e distúrbios de humor — suas causas, marcadores biológicos e estratégias de tratamento são fundamentalmente diferentes.
RED-S
Distúrbio metabólico causado por baixa disponibilidade crônica de energia
OTS
Resposta mal adaptativa ao desequilíbrio entre treinamento e recuperação
O diagnóstico preciso é crucial: tratar RED-S como OTS ou vice-versa atrasa a recuperação e pode agravar os efeitos adversos à saúde e ao desempenho do atleta.
Diferenciadores Críticos
Três domínios fisiológicos distinguem claramente estas condições e fornecem as bases para um diagnóstico diferencial preciso.

1
Marcadores Endócrinos
RED-S apresenta supressão hormonal consistente (leptina, T3, hormônios reprodutivos). OTS mostra respostas hormonais inconsistentes e não confiáveis para diagnóstico isolado.
2
Função Autonômica
OTS está consistentemente associada à redução da variabilidade da frequência cardíaca (VFC). RED-S mantém função autonômica normal ou levemente alterada.
3
Via de Recuperação
RED-S melhora com reabilitação nutricional. OTS permanece prejudicada por meses, mesmo com nutrição adequada, exigindo redução drástica no treinamento.
Deficiência Relativa de Energia no Esporte (RED-S)
Segundo o consenso do Comitê Olímpico Internacional (2023), a RED-S resulta da baixa disponibilidade crônica de energia, impactando negativamente funções fisiológicas, metabólicas e psicológicas.
- Causa Primária:
Desequilíbrio entre ingestão energética e gasto energético total, independentemente do peso corporal visível.
- População Afetada
Atletas de ambos os sexos, embora a literatura ainda seja desproporcionalmente focada em mulheres.


Síndrome do Overtraining (OTS)
A OTS representa uma resposta mal adaptativa ao estresse excessivo de treinamento sem recuperação adequada. Esta condição leva a uma queda prolongada de desempenho, acompanhada por distúrbios neuroendócrinos, autonômicos e psicológicos complexos.
Causa Primária
Desequilíbrio entre estresse do treinamento e capacidade de recuperação — não um déficit calórico
Duração
Queda de desempenho pode persistir por 6-12 meses ou mais
Desafio Diagnóstico
Falta de biomarcador único ou limiar padronizado dificulta identificação precoce
Marcadores Endócrinos e Metabólicos
Este domínio apresenta uma das distinções mais claras entre RED-S e OTS, fornecendo pistas diagnósticas essenciais.
RED-S: Padrão Consistente
- Supressão hormonal previsível e mensurável
- ↓ Leptina, ↓ T3, ↓ IGF-1
- ↓ Hormônios reprodutivos
- Redução da renovação óssea
- Marcadores refletem estado de deficiência energética
Diagnóstico: Marcadores hormonais são essenciais e confiáveis
OTS: Padrão Inconsistente
- Dados endócrinos variáveis e não uniformes
- Desregulação do eixo HHA
- Cortisol pode estar atenuado, exagerado ou normal
- Varia com atleta e momento da medição
- Reflete desequilíbrio autonômico
Diagnóstico: Cortisol isolado é insuficiente para diagnóstico confiável

Função Autonômica: O Diferenciador Mais Robusto
As medidas autonômicas fornecem a distinção mais confiável entre RED-S e OTS, particularmente através da análise da variabilidade da frequência cardíaca (VFC).
OTS
Função autonômica prejudicada:
- Redução consistente da VFC
- ↑ Frequência cardíaca de repouso
- Dominância simpática
VFC é o indicador fisiológico mais confiável
RED-S
Função autonômica preservada:
- VFC normal ou levemente alterada
- Alterações só aparecem com estressores adicionais
- Não é marcador diagnóstico primário
VFC permanece estável na RED-S isolada
Respostas de Desempenho e Recuperação
A trajetória de declínio e recuperação do desempenho difere substancialmente entre as condições, orientando estratégias de tratamento.

Tabela Comparativa Completa
| Característica | RED-S | OTS |
|---|---|---|
| Causa Primária | Baixa disponibilidade de energia (déficit calórico crônico) | Desequilíbrio entre carga de treinamento e recuperação |
| Marcadores Endócrinos | Supressão consistente: ↓ Leptina, ↓ T3, ↓ IGF-1 | Respostas inconsistentes (cortisol desregulado) |
| Função Autonômica | Normal ou alterações leves | ↓ VFC consistente, ↑ FC repouso |
| Saúde Óssea | ↑ Risco de lesões por estresse; renovação óssea reduzida | Não é marcador primário |
| Desempenho | Declínio gradual; melhora com restauração energética | Declínio prolongado (meses); não melhora só com nutrição |
| Tratamento Principal | Reabilitação nutricional (↑ ingestão energética) | Redução da carga de treinamento e otimização da recuperação |
Implicações Práticas e Abordagem Diagnóstica
A diferenciação precisa entre RED-S e OTS é clinicamente essencial. Tratar RED-S como OTS (prescrevendo apenas descanso) atrasa a intervenção nutricional necessária. Tratar OTS como RED-S (aumentando apenas calorias) falha em abordar o estresse excessivo do treinamento.
1
Avaliação da ingestão de energia
Análise detalhada do balanço energético diário
2
Perfil hormonal detalhado
Painel endócrino completo incluindo hormônios reprodutivos
3
Análise da carga de treinamento
Monitoramento da periodização e intensidade
4
Monitoramento da VFC
Medição regular da função autonômica
5
Histórico de lesões
Rastreamento de lesões por estresse ósseo
6
Triagem psicológica
Avaliação de humor, sono e comportamento alimentar
Gestão Multidisciplinar: A abordagem ideal requer colaboração entre médicos do esporte, nutricionistas, psicólogos e treinadores para implementar intervenções personalizadas, proteger a saúde do atleta e sustentar sua longevidade na carreira esportiva.

A corrida de rua vem crescendo de forma consistente no Brasil, especialmente entre quem busca saúde, qualidade de vida e novos desafios esportivos. No entanto, à medida que aumentam as distâncias e a intensidade dos treinos, cresce também a importância da prevenção de lesões na corrida. Recentemente, participei de uma entrevista na Band Campinas , dentro do tema “Saúde em movimento: prevenção para quem corre” , reforçando um ponto essencial: é possível evoluir na corrida sem dor, desde que o corpo seja respeitado . Sou o Dr. Rodrigo Vicente, cirurgião ortopedista , formado pela Unicamp , com residência médica pela USP , e há mais de 20 anos atuo no atendimento de corredores e esportistas , do atleta amador ao alto rendimento. Meu propósito é oferecer uma ortopedia resolutiva para quem quer continuar em movimento. Link para a entrevista: https://www.youtube.com/live/qShR1EyFjIs?si=DldXALHmL7N-hm1T

